Quando amamos a Deus sobre todas as coisas somos capazes de distinguir aquilo que realmente é digno de ser amado e necessário, daquilo que é contingente e temporário. “O amor não é cego, essa é a última coisa que ele é. O amor é atado; e quanto mais atado, tanto menos cego é”[1]. O amor nos faz enxergar a realidade, a verdadeira natureza das coisas, a ver o outro na sua dignidade, suas qualidades e nos leva a aceitação, a pôr as diferenças de lado, pois o amor é pessoal, se dá na descoberta do outro.
Por detrás do mero desejo pessoal em querer algo para si, existe uma pessoa, não apenas capaz de ser querida ou conhecida, mas capaz de amor, de ser amada. O amor requer amor, mas parte de uma ato livre, sem nada exigir, porque a sua realização se dá no próprio ato de amar. O amor nos impele a agir de modo pleno e constante, em uma justa medida; se manifesta em nós naquilo que temos de mais nobre, de mais valioso que é o esquecimento de si.
O amor nos impele a agir de modo pleno e constante, em uma justa medida.
O amor é doação total, fiel e fecunda, não repousa no autoconhecimento ou somente no desejo da verdade, mas se sobressai no ato da vontade em querer o bem. O amor está para o bem como o intelecto para a verdade, mas é a vontade que anseia muito mais que o conhecimento em repousar no bem desejável, adquirido; é a vontade que nos impele a sair da inercia.
Se pensamos como São Paulo se debruçou sobre a realidade e transcendentalidade da caridade, pode se evidenciar um “toque de Deus na alma”. Os grandes homens não surgiram somente pela bravura, pela coragem, mais pelo espirito de doação, assim também não foi diferente com as maiores obras feitas pelo homem a serviço da humanidade, a serviço do amor.
A realidade última é que nascemos do amor e para amar, e só seremos completos quando alcançarmos aquilo que é digno de ser amado. Se como dizia Santa Tereza de Calcutá que: “ama mais aquele que dá o primeiro passo”, é inconfundível e incomensurável aquele que nos amou por primeiro, aquele que se dispôs a nos criar sem pedir nada em troca e nem por um milésimo de segundo deixa de pensar em nós e em nos amar, pois pensando em nós no mantem no ser e nos mantendo no ser, nos dá a capacidade de amar o nosso objeto primeiro que é Ele mesmo. Se existimos é por que somos amados por Deus.
Como Pe. Dr. Eli disse uma vez em sala de aula que: “o dar robustece e não diminuiu” e em outra ocasião acrescentava que “quando Jesus olha para o homem, o olhar e o amar são sinônimos”, Deus cria-nos amando e amando-nos nos convida a olhar para fora de nós com o olhar do coração.
“quando Jesus olha para o homem, o olhar e o amar são sinônimos”
Aquele que ama não impõe limites, ele se lança sem reservas para alcançar a meta, pois o amor não permite condições, está disposto a dar a vida. Ninguém foi capaz de maior amor do que aquele que morreu pelo amor; o amor de um Deus pela obra de suas mãos. Amar é estar disposto a se doar até as últimas consequências e realizar “aqui” o que ecoará na eternidade. Por fim, amar é mais do que uma Palavra, é o se despojar, é o suspirar, o desejar aquilo que pode ser exprimido em uma imagem, o calvário, onde através do sacrifico o amor se fez visível, onde o mesmo é perpassado pela cruz e o mistério, onde se manifesta em nós a sede do infinito na beleza do criado; onde a humanidade pode tocar a divindade.
[1] G. K. Chesterton, Ortodoxia.
Diêgo Pereira da Silva, 2° ano da configuração.