A festa de Nossa Senhora do Carmo, comemorada em 16 de julho, é uma tradição que principiou no ano de 1332 e foi estendida à Igreja Universal em 1726 pelo Papa Bento XIII. Essa devoção traz para nós o modelo de fidelidade e segurança quando nos abandonamos aos cuidados da Santíssima Virgem. Devido essa piedade, temos como fruto visível a presença da ordem carmelita, uma das mais antigas na história da Igreja.
Conta-se que o surgimento dessa ordem é permeado pelas narrativas do Antigo Testamento acerca do Monte Carmelo, a montanha que domina a planície de Esdrelon no deserto do Sinai, na qual a figura do profeta Elias toma destaque. Lá houve um santuário pagão que atraía numerosos sacerdotes de Baal, divindade relacionada à fertilidade.
Elias desafiou esses ideólogos de Acab (1Rs 18, 19-44) passando ao fio da espada a quantia de 450 sacerdotes, fato que suscitou resposta imediata da rainha Jezabel – fenícia e por isso idólatra – que em seguida ordenou a morte de Elias (1Rs 19, 1-3). Ocasionalmente o profeta Eliseu, discípulo de Elias, também teria frequentado o Monte Carmelo que acabou se transformando, nos séculos III e IV da era cristã, em concorrido centro de romaria e de retiros espirituais. Em face disso, o Carmelo (que significa “jardim” ou “pomar”) passou a simbolizar o triunfo da espiritualidade cristã, um espaço consagrado a grandes experiências.
No século XI, um grupo de homens dispostos a seguir Jesus Cristo, reuniram-se no Monte Carmelo e ali construíram uma capela em honra de Nossa Senhora. Já no ano de 1226, a regra da Ordem Conventual dos Carmelitas Observantes foi aprovada pelo papa Honório III – data em que os cruzados voltavam da Palestina.
Neste mesmo século, o retorno à Europa mostrava grandes dificuldades à Ordem. Assim sendo, o membro carmelita inglês Simão Stock (1165 – 1265), que viveu seis anos na Terra Santa, ao suplicar à Nossa Senhora um sinal de Sua proteção, que fosse visível a seus inimigos, foi agraciado com uma visão no dia 16 de julho de 1251 em seu convento de Cambridge, na qual recebeu o escapulário de Nossa Senhora, juntamente com a recomendação de que o uso desse objeto livraria a alma dos devotos das penas do Inferno e até mesmo daquelas do Purgatório.
A palavra escapulário, do latim escapulae (ombros), designava o avental que os religiosos usavam nos trabalhos cotidianos para protegerem o hábito. Tal avental transforma-se em uma miniatura de dois pedaços de pano unidos por um barbante, de modo que um fica no peito e outro nas costas para dar proteção maternal ao devoto. O frade inglês que foi nomeado Superior Geral, foi fundador dos conventos em Cambridge, Oxford, Paris e Bolonha, bem como a ordem terceira dos carmelitas. Presume-se então que no Ocidente São Simão Stock tenha sido o instituidor da Ordem do Carmelo em um século marcado pela aceleração histórica.
A Igreja Católica deu claras demonstrações de apoio aos religiosos do Carmelo egressos da Terra Santa através do Privilégio Sabatino que suscitou uma incrível popularidade ao culto da Virgem do Carmo e de São Simão. No ano de 1322, o papa João XXII, através da bula Sacratíssimo uti culmine, revelou que Nossa Senhora do Carmo lhe aparecera e lhe prometera tirar do Purgatório as almas de todos os fiéis que em vida tivessem pertencido à Ordem de Nossa Senhora do Carmo ou à Confraria do Santo Escapulário do Carmo no sábado seguinte à sua morte. Com o uso do escapulário, símbolo de devoção e consagração à Virgem, o devoto também passou a gozar de indulgências plenas ou parciais.
Os fundadores do Carmelo reformado ou Carmelo Descalço foram: Teresa de Ávila (1515-1582) e João da Cruz (1542- 1591), espanhóis autores de uma vasta obra mística que deu ao Carmelo certo peso intelectual. Eles fundaram em 1562 o primeiro Convento dos Carmelitas Descalços. A dupla, Teresa e João, preocuparam-se com o retorno da primitiva observância, colocando como fundamento da mística as virtudes teologais (fé, esperança e caridade), a humildade, a castidade, a pobreza, a penitência e a mortificação. Ambos constituem devoções específicas da época Barroca, período de um catolicismo reformado e que perduram até os dias atuais.
Mediante todo esse contexto, podemos alegar que quem segue Jesus e é devoto de Maria Santíssima, caminha a passos seguros no caminho da salvação. E o escapulário é um grande sinal da proteção de Maria. Tomemos como exemplo as palavras do Papa João Paulo II, que escreveu, inspirado no trecho bíblico de Jo19, 25-27, ao declarar que usava o escapulário desde sua juventude: “O Escapulário é signo de aliança entre Maria e os fiéis. Traduz concretamente a entrega, na cruz, de Maria ao discípulo João”.
Fontes:
CAMPOS, Adagilsa Arantes. A ordem Carmelita. Revista Per Musi, Belo Horizonte, n.24, jul-dez. 2011, p.54-61.
CIPOLINI, Côn. Dr. Pedro Carlos. A origem do escapulário. Disponível em: <https://carmelitas.org.br/index.php/o-escapulario/>
Alisson Sales Prates, 3º ano do discipulado.