Nas diversas culturas ao longo da história da humanidade, o templo foi quase que sempre considerado a habitação da divindade. Hoje, para nós cristãos, a igreja (templo) possui sentido mais profundo e que extrapola a ideia da presença de Deus no próprio espaço físico. É principalmente no coração do homem que Deus quer habitar.
Conforme, Hani Jean, para o povo Judeu o santo dos santos no templo de Jerusalém, era o lugar da arca da aliança, sobre a qual estava a nuvem da presença de Deus a “Shekinah”[1]. E com razão, o templo era chamado de casa de Deus. Com a vinda de Cristo e a nova aliança, a arca e o templo perderam sua razão de ser. Os primeiros cristãos utilizavam das próprias casas para se reunirem e “partirem o pão”, e posteriormente, devido a perseguição nos primeiros séculos, as reuniões ocorriam também nas catacumbas. Com o passar dos séculos, surgem os edifícios destinados ao culto cristão, as igrejas.
Hoje para os cristãos, o edifício igreja comporta vários significados eclesiológicos, mistagógicos e também cosmológicos. Para nosso povo fiel é principalmente a casa Deus. Aquele lugar onde vamos para falar com Ele e a encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo no sacramento da Eucaristia. Onde o corpo místico de Cristo se reúne para celebrar o santíssimo sacrifício da missa. Diante de tamanha dignidade deste lugar, engrandece aos nossos corações ver o zelo e cuidado com que nosso povo tem para com nossas igrejas, por mais simples que sejam, sempre estão bem limpas, enfeitadas e artisticamente dotadas. Tudo fazemos para que o melhor seja dado a Deus em sua santa habitação.
Com efeito, Deus está presente em nossas igrejas, entretanto, tem um lugar que Ele deseja habitar ardentemente e de forma ainda mais íntima, que é em nosso coração. Diante desta realidade, Ele nos pergunta: Que casa é essa que edificais para mim? Sim, como estamos preparando esta habitação para o Altíssimo? Nós que somos o templo do Espirito Santo, como estamos edificando este templo? Por mais que Deus se agrade de nossa dedicação em ornar seu templo físico, Ele espera que nosso coração reflita esta beleza, pois, é em nosso interior que ele quer habitar, de maneira profunda, vivendo em nós, nos tornando uma santa habitação, sacrários vivos.
Neste templo ninguém pode nos impedir de entrar para estar com Ele, nem mesmo esta pandemia que nos assola; este templo nunca estará de porta fechada, a menos que nós mesmos a fechemos. Ele sempre está lá, nos acompanha a cada momento, é como uma “igreja que caminha conosco”, não depende de espaço físico. Quantos Santos não encontraram nesta igreja, um lugar de pura intimidade com Cristo, de onde ninguém poderia lhe tirar a sua presença.
Como temos cuidado desta morada tão excelente de Deus? Como seria terrível, o Senhor da glória ao adentrar esta morada e encontrar ocupado pelas coisas deste mundo; A casa suja pelos pecados, desorganizada pelos vícios ou ainda nem entrar, porque a porta está fechada, ou ficar sozinho, porque estamos tão perdidos em nós mesmos, que não o conseguimos achar em meio a bagunça que deixamos nosso coração. Antes, devemos trazer esta nossa igreja interior sempre limpa dos pecados, ornada com as flores das virtudes, artisticamente dotada com as boas obras, tudo preparado para encontrar com o amado, para com ele ter um diálogo que é de coração a coração.
Em semelhança a igreja física, onde em oração mergulhamos em um ambiente inundado de Deus, em nossos corações quando o recebemos, especialmente pela recepção da sagrada comunhão, somos inundados de Deus a ponto de transpor as nossas paredes e irradiar aos outros. Santo Antônio por exemplo, que não podendo conter esta luz dentro de sua igreja (coração), anunciava a todos a palavra de Deus, para que todos que o ouvissem, tivessem suas igrejas também inundadas por esta luz. Que casa então vamos edificar para Deus em nós? Quem com amor, se dedicar a estar com Ele e todos os dias a construir, logo ofertará a Deus uma verdadeira Basílica, que nenhuma igreja física construída com os melhores engenheiros e artistas com os materiais mais ricos, jamais conseguirá se igualar a igreja que existe em nós.
[1] HANI, Jean. O simbolismo do Templo Cristão. Lisboa: Edições 70, 1999, 97.
Higor Moreira da Silva Evangelista, 1º Ano do discipulado.