Neste dia 16 de outubro, a Igreja celebra Santa Edwiges, a padroeira dos endividados. A devoção a ela é mais comum no sul do País, provavelmente introduzida por imigrantes poloneses. Porém, seu culto tem se difundido pelo Brasil, e também em nossa região. Entretanto, mais do que interceder a Deus por aqueles que estão com problemas financeiros, Santa Edwiges nos mostra o caminho mais sublime que nos conduz a Deus, o caminho da Caridade.
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.” (1 Cor 13,1)
Santa Edwiges foi uma duquesa, esposa de um Duque, chefe de um ducado que equivalia a um reino, outrora equivalentes a rei e rainha. Por ser nobre, Santa Edwiges possuía muitos bens, entretanto, estes não a possuíam. Vivia com simplicidade, e seus bens não eram sua vida, mas sim, meios de dar vida aos outros.
Em nossa sociedade consumista e hedonista, o comprar, o ter, o acumular, é o centro da vida de muitas pessoas. Toda cultura está voltada para o consumo, isto leva ao extremo, os próprios seres humanos, são tratados como bens ou coisas que podem ser “consumidas” e depois descartadas.
Essa cultura só leva o homem a pensar em seu próprio bem estar e a se realizar, e se realizar é possuir muitos bens. Utilizar daquilo que temos para o auxílio do próximo, muitas vezes nos custa, pois nossos corações estão repletos de apegos aos bens, e abrir mão seja dos bens, seja daquilo que me dá prazer, é como abrir mão da própria vida.
“Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, não sou nada.” (1 Cor 13,3)
O auxílio aos pobres com os bens, é apenas uma das formas de manifestação da caridade, pois a caridade é em primeiro lugar o mais puro amor. Uma alma caridosa, é repleta do amor de Deus. Em Um coração repleto deste amor, não há espaço para outras coisas e apegos. Mesmo que eu desse milhões em esmola todos os anos, sem a caridade, cairia em um mero assistencialismo, ou quem sabe, apenas em um modo de me sentir menos culpado comigo mesmo, ou talvez uma forma de promover o meu orgulho.
“tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. (1 Cor 13,7)
A vida de Santa Edwiges não foi em busca do ouro que perece, mas em busca do mais puro amor, o amor de Deus. Por isto, vivia como uma monja em extrema simplicidade. Educou os filhos na fé e mesmo quando estes vieram a falecer não perdeu a paz, mas se entregou ainda mais a Deus. Ajudou a construir muitos mosteiros e no fim de sua vida, após a morte de seu marido, entrou para o convento onde sua filha era abadessa.
Dos milagres atribuídos a Santa Edwiges, o mais famoso é o de um homem, que preso por muitas dividas, foi condenado à morte por não ter como paga-las. Após ignoradas suas suplicas junto a seu marido, Edwiges decidiu pagar a dívida daquele pobre homem. Entretanto, quando foi efetuar o pagamento de tal dívida, lhe informaram que ele já havia sido executado no dia anterior. Edwiges cheia de fé a pagou mesmo assim, e para surpresa de todos, ao entrarem no local onde aquele pobre homem fora executado, ele estava milagrosamente vivo.
“Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade, das três, porém, a maior delas é a caridade. ” (1 cor 13, 13)
Quando estamos cheios de caridade como Santa Edwiges, não colocamos condição para ajudar ao próximo. Seja ao darmos alguma ajuda material, seja quando nos colocamos em oração por aqueles que necessitam. A caridade, não exige atos extraordinários, mas uma entrega sincera. Quantas pessoas não precisam apenas de uma palavra amiga, um gesto de cordialidade, para terem seus dias transformados? É o poder da caridade verdadeira.
Santa Edwiges é uma das centenas de estrelas que brilham na constelação dos santos que viveram plenamente a caridade. São Francisco de Assis, São Filipe Neri, Santa Dulce dos pobres, Santa Tereza de Calcutá. Enfim, todos estes santos, como Santa Edwiges, viveram a caridade de forma intensa, e com isto, transformaram a vida também de tantas pessoas, uma vez que, a consequência natural do amor é se multiplicar. As outras virtudes surgem como luzeiros que se irradiam a partir da caridade e esta incendeia o mundo ao seu redor.
Muitos desejam dons de profecias, dons de visões sobrenaturais, dons de curas milagrosas e prodígios. Tais desejos só relevam um anseio por dons que beneficie a si mesmo. A caridade é desinteressada, só quer amar e que todos possam viver este amor, e este amor é Deus. Por isso antes de mais nada, caridade é dar Deus aos outros.
Que ao pedirmos a intercessão de santa Edwiges, a padroeira dos endividados, peçamos mais do que sua ajuda em nossos problemas financeiros. Que por sua intercessão nossas dividas (pecados) sejam deixados para trás; que nosso egoísmo e nossa indiferença para com o próximo cessem. Peçamos também, que nossos corações possam ser incendiados de caridade como o dela, pois mesmo no céu
“a caridade nunca acabará.” (1 Cor 13,8)
Higor M. S. Evangelista, 1º ano do discipulado