A FACE REDENTORA DO PAI

O homem de verdade deve se doar, deve sangrar na alma, todos os dias, por alguém que ele ama.

De repente você se pegou calçando os sapatos de seu pai, vestindo a camisa da empresa e tudo que você queria era ser grande como ele. Não obstante, você já deve ter desejado ser totalmente diferente de seu pai. E ao longo de sua vida é provável que você já tenha sido pego de surpresa por alguém que lhe disse:

“Você é a cara do seu pai! ”.

O interessante é observar que como crianças passamos por um processo de formação da personalidade e nos identificamos com alguém, refletimos os exemplos dos pais “a criança se ‘individua’ (cria sua própria identidade) se tem figuras significativas e de identidade clara. ”[1].

Não seria novidade perceber a surpresa em sua expressão facial, haja vista que nem sempre percebemos o quanto nos parecemos com aqueles que nos deram a vida. O fato é, que muitas vezes nos surpreendemos, justamente por estarmos reproduzindo não suas virtudes, mas os defeitos. De repente, são atos que realmente repudiamos e, às vezes, até prometemos que faríamos diferente no futuro, mas, no entanto, se repetem sem o mínimo assentimento da vontade.

A verdade é que olhando o nosso pai, aprendemos a ser homem como ele é, desde a infância refletimos aquilo que ele é. “Podemos dizer que a infância é uma idade de ‘vida interior’, que leva os seres humanos a crescerem e a se aperfeiçoarem.”[2]

Cogito a possibilidade de você ter se incomodado com o que leu até o presente momento, confrontando com sua vida, na experiência concreta da realidade. Criando uma imagem distorcida do que realmente é ser pai. Porém, em dado momento da história Deus se revelou como pai e o questionamento se torna inevitável ao contrapor com o pai terrestre. Contudo, Deus mostra à humanidade a sua verdadeira face de pai no seu filho Jesus Cristo.

Jesus, a face do Pai

Deus é perfeitíssimo e tudo que Ele faz é bom, “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele”[3].  O amor do Pai se revelou perfeitamente em seu filho, Cristo Jesus, o autor da vida se faz visível, o próprio Deus toma a condição de uma pessoa humana e se faz carne, o Amor se torna palpável, é o Pai andando entre nós, na pessoa do Filho.

“Quem vê a mim, vê o Pai”[4]

No antigo testamento é possível encontrar com facilidade expressões que mostram Deus como um ser furioso, irado, cheio de cólera e pura justiça. Na forma da pedagogia divina era necessário que assim Deus se revelasse, pois de outro modo os homens não seriam capazes de acolher sua vontade. A potência de um deus era medida por sua força e seus feitos, com critérios bem humanos, Deus era um guerreiro. No entanto, na plenitude dos tempos, Deus Pai se dá a conhecer através do Filho.

Cristo, nos mostra que o Pai é aquele que acolhe os pecadores, como a mulher adúltera que seria apedrejada. Salva-a do julgamento humano, mas acima de tudo diz para esta não tornar a pecar. O Pai é aquele que ensina o caminho a seguir, “Jesus lhe respondeu: ‘se queres ser perfeito, vai, vende o que possuis e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois vem e segue-me’. ”[5]

Mesmo ensinando o caminho, Ele não obriga seus filhos a segui-lo, mas é capaz de esperar todos os dias à porta de casa aquele que se perdeu, “Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, o abraçou e o beijou. ”[6]. O Pai é aquele que corrige quando necessário. Em outras palavras, Deus é “um pai ‘de personalidade’ (isto é, forte e bondoso) ”[7].

Jesus foi inúmeras vezes reconhecido por ser o filho do carpinteiro, não o reconheciam de início pelos seus feitos e prodígios, todavia reconheciam a sua filiação em relação a São José.

“COM CORAÇÃO DE PAI: assim José amou a Jesus, designado nos quatro Evangelhos como ‘o filho de José’.”[8]

De tal modo, vê-se a importância da figura paterna, onde foi de São José, que Jesus aprendeu o ofício de seu trabalho, aprendeu a proteger sua mãe e a honrá-la. Vendo o exemplo de seu pai terrestre conheceu o amor do Pai do céu e, na verdade, de São José, Jesus aprendeu a ser homem.

“Um menino tem muito o que aprender em sua jornada para se tornar um homem e ele se torna um homem somente por meio da intervenção ativa de seu pai”.[9] De São José, Jesus aprendeu a revelar a face humana do Pai.

Jesus, também aprendeu de São José, a se sacrificar. Viu que

o homem de verdade deve se doar, deve sangrar na alma, todos os dias, por alguém que ele ama,

colocando em risco a própria vida para que o outro possa viver. Aprendeu que a vida não lhe pertence, aprendeu a amar.

“São Paulo VI faz notar que a sua paternidade se exprimiu, concretamente, ‘em ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da encarnação e à conjunta missão redentora; em utilizar da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer dom total de si mesmo, da sua vida e do seu trabalho; em ter convertido sua vocação humana ao amor doméstico na oblação sobre-humana de si mesmo, do seu coração e de todas as suas capacidades no amor colocado a serviço do Messias nascido em sua casa’.”[10]

Jesus é a face redentora do Pai aprendendo de São José a ser o filho do carpinteiro.

Sou bom como o meu Pai

Assim como qualquer outra pessoa, nosso pai aqui na terra não é perfeito, possui também suas limitações, é fraco como nós e está sujeito a falhas, contudo deve possuir algo de bom e se não somos capazes de enxergar esse algo bom, ao menos seria possível reconhecer que ele foi capaz de nos transmitir a vida e nisso ele colabora com Deus criador. Assemelhamo-nos ao nosso Pai do céu, assim como, parecemos com o nosso pai na carne, a distinção é que de Deus só iremos refletir o que há de bom, pois Ele todo é bondade. Certa vez ouvi a seguinte frase de um padre: “sou bom como o meu Pai” e realmente, somos bons como o nosso Pai nos ensinou a ser. De fato, Deus não se revelou somente na história da humanidade, mas Deus se revela na história pessoal de cada um à sua maneira, assim como Ele deu sua vida por cada pessoa. Com isso, justifico a pessoalidade com que essas palavras foram escritas, ab imo corde, do fundo do coração.

Muitas podem ser as experiências ruins que passamos na vida, experiências essas que nos fazem esquecer da bondade que há em nós, da bondade que há nos outros, da bondade que há em Deus, mas Cristo nos revela a face de amor do Pai, sua face misericordiosa, sua face redentora. Deus, o Pai, nos ama, “Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem”[11] por esse infinito amor nos comunicou a vida, sua bondade, sua graça, a salvação, nos deu esperança e a “esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”[12]

Tirou de nós o coração de pedra e colocou o coração de carne. Somos a imagem do Pai e devemos nos esforçar para sermos cada vez mais parecidos com Ele, como crianças, calcemos os sapatos e vistamos a camisa do Papai.

 “Aquilo que herdaste de teus pais, conquista-o para fazê-lo teu. ”[13]


[1] CIPRIANNI, Giovanni. Homossexualidade neurociências e orientação sexual. São Paulo: Paulus. 2018, p.30. [2] MONTESSORI, Maria. A formação do homem. 1. ed. Campinas, SP: Kírion. 2018, p.48. [3] 1 Jo 4,16. [4] Jo 14,09. [5] Mt 19, 21. [6] Lc 15, 20. [7] NICOLOSI, Joseph.; NICOLOSI, Linda Ames. Homossexualidade: um guia de orientação aos pais para formação da criança. Tradução: Hope Gordon Silva. São Paulo: Shedd Publicações. 2007, p.28. [8] FRANCISCO. Patris Corde. Edições CNBB. 2020, p.07. [9] ELDREDGE, John. A grande aventura masculina: Como encontrar seu coração selvagem e descobrir uma vida de desafios e emoções. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil. 2017, p.19. [10] FRANCISCO. Patris Corde. Edições CNBB. 2020, p.09. [11] 1Jo 4,16. [12] Rm 5,5. [13] GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto. Paete I, Cena I.


Wilmar Moreira Júnior, 1º ano da configuração

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