Baseado nas catequeses de Bento XVI e na obra Confissões de Santo Agostinho, este texto procura fazer uma breve exposição acerca da vida deste que é considerado o maior Padre da Igreja Latina, destacando especialmente a sua conversão que não se deu de uma hora para a outra, mas somente após um árduo processo que, paulatinamente, o fez encontrar-se com a Verdade. Uma conversão permanente que é exemplo para todo cristão.
Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, cidade de uma província romana localizada no continente africano, em 13 de novembro de 354, filho de Patrício e de Mônica. O pai era um pagão, batizado já no fim da vida, a mãe, ao contrário, era uma mulher de fé viva e valores cristãos, que exerceu forte influência sobre o filho. Santa Mônica foi de fato, fundamental na conversão de seu filho, não apenas com orações e lágrimas, mas especialmente com o seu testemunho de vida:
“Minha mãe era a serva de todos os teus servos. Todos os que a conheciam louvavam, honravam e amavam profundamente a ti, por nela sentirem a tua presença, comprovada pelos frutos de uma vida santa” (Confissões XI, 9).
Dotado de inteligência perspicaz, ele estudou gramática e retórica e também aprendeu muito bem a língua latina. Uma leitura de significativa importância que o marcou para toda a vida foi Hortensius de Cícero (obra que se perdeu), que fez com que o seu amor à sabedoria ganhasse ainda mais força. Leu também a Bíblia, por curiosidade, e, no entanto, ficou desiludido devido as traduções latinas existentes que não permitiram que ele entendesse o conteúdo como deveria e assim, nesse primeiro contato, acabou por considerá-la insatisfatória.
Sempre foi marcante em Agostinho o amor pela verdade e a fascinação pela figura de Cristo, mesmo assim na juventude acabou se afastando da fé eclesial. Entretanto, não podia viver sem Deus, por isso entra numa seita bastante difundida na época, o maniqueísmo, encantado por sua promessa de ser uma religião totalmente racional. Essa seita era baseada na existência de dois princípios: um bom e outro mal, de modo a explicar a complexidade da história humana.
Além do mais, o maniqueísmo tinha muitos adeptos influentes e sua moral era muito cômoda para os iniciantes, o que garantiria vantagens a Agostinho tanto no relacionamento pessoal como na carreira profissional. Chegou a viver com uma mulher por mais de dez anos sem se casar com ela, teve um filho chamado Adeodato, mas este veio a falecer ainda bem jovem.
Com a morte do pai, Agostinho dedica-se ao ensino da gramática em sua cidade natal e mais tarde leciona retórica em Cartago, onde consegue muitos alunos. Alípio, um dos alunos, tornou-se seu grande amigo. Em 383, deixa Cartago e vai para Roma escondido da mãe. Após breve temporada na cidade eterna muda-se para Milão, onde obtém uma cátedra que lhe permite lecionar de 384 a 386. Mônica, que continuava a rezar e chorar por seu filho, não suporta a distância e resolve ir atrás dele, encontrando-o em Milão.
Do ponto de vista intelectual, a ânsia de verdade de Agostinho não pôde ser suprida pela seita maniqueísta, que se revela ainda mais insuficiente para responder às suas questões e ele não queria uma religião que não fosse uma expressão da razão, ou seja, da verdade. Por isso ele abandona o maniqueísmo e neste período passa por uma crise de ceticismo, onde considera a verdade como sendo inacessível. Entende-se por isso que desde sua mocidade ele buscou com todas as suas forças pela verdade se afastando, inclusive, da fé cristã porque naquele primeiro contato parecia incompatível com a razão.
Mesmo com toda essa confusão interior a Providência quis que Agostinho ouvisse com frequência as pregações de Santo Ambrósio, atraído pela eloquência do bispo de Milão. A princípio, era apenas para enriquecimento de sua própria bagagem retórica, mas acabou ficando fascinado também pelo conteúdo de suas pregações e pela interpretação tipológica da Sagrada Escritura, através de um significado espiritual.
Agostinho pôde encontrar, desse modo, a chave para entender a beleza e profundidade filosófica da Sagrada Escritura e a sua unidade com o mistério do Verbo encarnado e a compreensão do Antigo Testamento, como um caminho rumo a Jesus Cristo. Agora era possível a síntese entre fé, filosofia e racionalidade permitindo o percurso intelectual e espiritual que soube realizar a relação entre fé e razão.
Em 15 de agosto de 386, após um longo e difícil processo interior, finalmente Agostinho se converte ao cristianismo. Fundamental à sua decisão foi a leitura de Rm 13, 13-14, onde o Apóstolo exorta a abandonar as obras da carne e a revestir-se de Cristo. Destarte, Agostinho testemunha nas Confissões:
“Mal terminara a leitura dessa frase, dissiparam-se em mim todas as trevas da dúvida, como se penetrasse no meu coração uma luz de certeza” (Confissões VIII, 12).
Na Vigília Pascal de 387, Agostinho é batizado pelo bispo S. Ambrósio, na catedral de Milão. Tinha, portanto, 32 anos quando se realizou a etapa decisiva do seu caminho de conversão abandonando completamente qualquer compromisso com o mundo para seguir decididamente a Cristo. A sede de verdade que o inquietou constantemente, nunca permitiu que ele vivesse na superficialidade.
Decide retornar à África onde pretendia viver uma vida dedicada à contemplação e aos estudos, mas uma perda inestimável lhe sobrevém na viagem de volta, sua mãe, Santa Mônica, adoece e morre na cidade de Óstia.
Tendo regressado à sua terra natal, inicia com alguns amigos, uma comunidade religiosa, pois desejava estar apenas a serviço da verdade, no entanto, descobre que sua vocação não se restringia à vida monástica de oração e estudos, mas compreendeu que Deus o chamava para viver para o próximo, dispondo dos frutos da sua inteligência para os outros. Apesar de resistir, foi ordenado sacerdote em 391 e pouco tempo depois sagrado bispo de Hipona em 395, porque sua vocação era ser pastor e oferecer a verdade aos demais.
Foi incansável no seu compromisso de pastor, sendo um bispo exemplar, zeloso com o clero, atencioso com os necessitados e diligente nas pregações. Enfrentou com intrépida coragem as heresias, refutando com verdadeira sabedoria os desvios da ortodoxia católica, como o maniqueísmo, do qual fizera parte, o donatismo e o pelagianismo. Em pouco tempo tornou-se um dos representantes mais expressivos do cristianismo. Faleceu em 28 de agosto de 430, após anos de intensa atividade pastoral e intelectual deixando várias obras escritas.
A conversão de Santo Agostinho não pode ser considerada como uma decisão simples e acabada em um só ato, mas sim um grande e custoso caminho que teve seu ápice na decisão de aderir a fé católica e ser batizado e que prosseguiu até o final de sua peregrinação nesta terra, transformando-o num grande santo, autor de várias obras que contribuíram para toda geração posterior. Nos escritos de Santo Agostinho ele mesmo fala, mostra a sua fé ardente que é sempre atual, pois é a autêntica fé em Cristo, que é a própria Verdade.
Gean Cácio, 2º ano da configuração.