Santo Agostinho, grande pensador, filósofo, teólogo e doutor da Igreja, afirmou que: “O mundo proclama seu autor e incessantemente nos remonta a ele porque a sabedoria divina deixou sua marca em todas as coisas e basta considerá-las para ser reconduzido das coisas para a alma e da alma para Deus” (GILSON, 2006, p. 50)[1].
Essa afirmação, no bom tom agostiniano e cercada de seu pensamento, encontrou seu ápice em um homem que provavelmente nunca a ouviu. Esse homem, temporalmente distante de Agostinho e longe de se envolver com os diversos debates filosóficos e teológicos de sua época, viveu sua pequena existência terrena totalmente voltado a Deus.
Esse homem cumpriu de forma exemplar os conselhos de Cristo. Não somente os cumpriu, mas amou a Deus como dificilmente outro homem após ele amou ou amará. E amando a Deus, aprendeu a amar a seus irmãos e todas outras coisas.
Tal homem olhava para as coisas e sabia que elas lembravam seu Criador. Isso o fez um dia implorar que as plantas e animais parassem de falar que Deus o amava, pois ele já o sabia. Isso o fez deitar-se sobre a relva do campo e chamar de irmã algo tão grande e distante como a lua. Por revelar o Amor de Deus à sua própria alma, ele chamou o sol e o vento de irmãos, bem como os animais e todos os outros seres.
Tudo que este homem via remetia a algo que já sabia. Isso não por que tinha algo a mais, mas por que tinha algo a menos. Ele era livre, totalmente e exclusivamente livre, até mesmo de suas próprias necessidades. Se houvesse ou não pão para amanhã isso não lhe importava, pois era, me arrisco, o homem mais livre de toda a humanidade. E essa liberdade se expressava em seu espírito que não tinha barreiras e se espalhou por todo o mundo.
Tal homem, o mais livre de todos, vivia junto com outros homens livres que só buscavam fazer aquilo que agradava a Deus. E essa liberdade atraiu até uma bela moça de seu tempo que largou toda sua beleza e vestida como uma noiva se libertou de todas as convenções e foi se ofertar inteiramente a Deus. Eis aqui a verdadeira e fabulosa emancipação.
E tal homem fez tudo isso, se libertou de tudo, somente por amor a Deus, por saber que Ele o amava e todas as coisas o diziam isso. “Deus viu tudo que tinha feito: e era muito bom” (Gn 1, 31) e a isso esse homem canta, louvado seja! Louvado seja o sol, por que ele é bom e é nosso irmão. Louvado seja a lua, porque é boa e nossa irmã, a terra, o lobo, os pássaros e todos outros seres.
E tal homem, além de agradecer por todos estes seres e os respeitar e amar por que lhe mostravam a face de Deus, ele amava ainda mais um ser, ainda mais que os próprios animais. E logo abaixo de Deus, essas criaturas ocupavam sua mente. Ele amava os homens.
A cada homem, bom ou mau, ele estava pronto a se jogar os pés, abraça-lo, beija-lo, pois era seu irmão com ainda mais propriedade e igualmente ainda mais o mostrava a face de Deus, seja pelos seus atos ou por sua própria existência. Esse homem, ao contrário de muitos hoje, nunca afirmaria que ama os animais e odeia os homens, pois esses são maus, mas falaria que ama os dois e ainda mais os homens, principalmente se forem maus.
Prova dessas afirmações é que tal homem, ensinando a seus irmãos seguidores de Cristo, disse que se um ladrão os surpreendesse na estrada e os levasse a capa, deveriam correr atrás do ladrão para entregar também seu manto ou qualquer outro bem que possuísse. Que engraçado, algo totalmente inverso aconteceria. E isso fizeram seus amigos, para ainda maior surpresa dos assaltantes.
A cada ladrão, cada mendigo, cada homem, mulher ou criança, a cada planta ou animal esse homem amava e cantava. Ele também gostava muito de cantar, pois a música dele era um hino e sempre um hino de gratidão. E se visse uma flor desabrochar, um homem rir, uma criança chorar, um pássaro cantar, ele agradecia ao Sumo Bem por ter criado todas essas coisas e comunicar o Seu Amor a todas elas, inclusive para ele.
Esse homem era puro, mais do que podemos imaginar e suas aspirações era que todos se purificassem. Se o demônio o tentava não temia em se mortificar e a roseira em que seu sangue escorreu se manteve sem espinhos depois do fato.
E que vida, quantos detalhes, tantas histórias, tudo vivendo a liberdade da certeza que Deus o amava e que todas as coisas o transmitiam isso. A vida desse homem é realmente digna de admiração e de diversos escritos dedicados a ele, pois acima de tudo, ele era um homem livre, que amava a Deus e a todas as coisas.
Tal homem largou tudo para morar em um igreja em ruínas e reconstruir, não somente essa capela, mas toda a Igreja de Cristo. Ele amava de forma muito especial a Igreja, reconhecendo nela o poder divino e não temeu provações e dificuldades para ser fiel a ela, em qualquer uma de suas circunstâncias.
Se tudo em que fazia via Deus, nele todas as coisas e pessoas viam Deus. Inclusive recebeu as chagas de Cristo, marcando em sua carne a sua configuração com Cristo, com o Cristo sofredor.
Esse homem é Francisco, homem pobre, mas o homem mais rico do mundo. Que passava necessidades, mas era o homem mais feliz do mundo. Ele era o homem mais feliz do mundo por que era o mais livre, e vivia somente para Deus e o encontrava em qualquer lugar que olhasse.
Por isso, Francisco soube partir das coisas visíveis e chegar a Deus como ninguém em toda a humanidade. Seu amor por Deus era de tamanha extensão que é chamado Pai Seráfico, pois ama a Deus como um serafim e no lugar daquele que não quis reconhecer nas imagens das criaturas à semelhança de Deus.
Nós, que não podemos imita-lo nesse amor e nem nessa liberdade, que o imitemos no cuidado das coisas e ainda mais das pessoas. Escutemos ainda a voz de Francisco que continua ressonando das antigas terras de Assis, e clama Laudato si!
Essa afirmação, no bom tom agostiniano e cercada de seu pensamento, encontrou seu ápice em um homem que provavelmente nunca a ouviu. Esse homem, temporalmente distante de Agostinho e longe de se envolver com os diversos debates filosóficos e teológicos de sua época, viveu sua pequena existência terrena totalmente voltado a Deus.
Esse homem cumpriu de forma exemplar os conselhos de Cristo. Não somente os cumpriu, mas amou a Deus como dificilmente outro homem após ele amou ou amará. E amando a Deus, aprendeu a amar a seus irmãos e todas outras coisas.
Tal homem olhava para as coisas e sabia que elas lembravam seu Criador. Isso o fez um dia implorar que as plantas e animais parassem de falar que Deus o amava, pois ele já o sabia. Isso o fez deitar-se sobre a relva do campo e chamar de irmã algo tão grande e distante como a lua. Por revelar o Amor de Deus à sua própria alma, ele chamou o sol e o vento de irmãos, bem como os animais e todos os outros seres.
Tudo que este homem via remetia a algo que já sabia. Isso não por que tinha algo a mais, mas por que tinha algo a menos. Ele era livre, totalmente e exclusivamente livre, até mesmo de suas próprias necessidades. Se houvesse ou não pão para amanhã isso não lhe importava, pois era, me arrisco, o homem mais livre de toda a humanidade. E essa liberdade se expressava em seu espírito que não tinha barreiras e se espalhou por todo o mundo.
Tal homem, o mais livre de todos, vivia junto com outros homens livres que só buscavam fazer aquilo que agradava a Deus. E essa liberdade atraiu até uma bela moça de seu tempo que largou toda sua beleza e vestida como uma noiva se libertou de todas as convenções e foi se ofertar inteiramente a Deus. Eis aqui a verdadeira e fabulosa emancipação.
E tal homem fez tudo isso, se libertou de tudo, somente por amor a Deus, por saber que Ele o amava e todas as coisas o diziam isso. “Deus viu tudo que tinha feito: e era muito bom” (Gn 1, 31) e a isso esse homem canta, louvado seja! Louvado seja o sol, por que ele é bom e é nosso irmão. Louvado seja a lua, porque é boa e nossa irmã, a terra, o lobo, os pássaros e todos outros seres.
E tal homem, além de agradecer por todos estes seres e os respeitar e amar por que lhe mostravam a face de Deus, ele amava ainda mais um ser, ainda mais que os próprios animais. E logo abaixo de Deus, essas criaturas ocupavam sua mente. Ele amava os homens.
A cada homem, bom ou mau, ele estava pronto a se jogar os pés, abraça-lo, beija-lo, pois era seu irmão com ainda mais propriedade e igualmente ainda mais o mostrava a face de Deus, seja pelos seus atos ou por sua própria existência. Esse homem, ao contrário de muitos hoje, nunca afirmaria que ama os animais e odeia os homens, pois esses são maus, mas falaria que ama os dois e ainda mais os homens, principalmente se forem maus.
Prova dessas afirmações é que tal homem, ensinando a seus irmãos seguidores de Cristo, disse que se um ladrão os surpreendesse na estrada e os levasse a capa, deveriam correr atrás do ladrão para entregar também seu manto ou qualquer outro bem que possuísse. Que engraçado, algo totalmente inverso aconteceria. E isso fizeram seus amigos, para ainda maior surpresa dos assaltantes.
A cada ladrão, cada mendigo, cada homem, mulher ou criança, a cada planta ou animal esse homem amava e cantava. Ele também gostava muito de cantar, pois a música dele era um hino e sempre um hino de gratidão. E se visse uma flor desabrochar, um homem rir, uma criança chorar, um pássaro cantar, ele agradecia ao Sumo Bem por ter criado todas essas coisas e comunicar o Seu Amor a todas elas, inclusive para ele.
Esse homem era puro, mais do que podemos imaginar e suas aspirações era que todos se purificassem. Se o demônio o tentava não temia em se mortificar e a roseira em que seu sangue escorreu se manteve sem espinhos depois do fato.
E que vida, quantos detalhes, tantas histórias, tudo vivendo a liberdade da certeza que Deus o amava e que todas as coisas o transmitiam isso. A vida desse homem é realmente digna de admiração e de diversos escritos dedicados a ele, pois acima de tudo, ele era um homem livre, que amava a Deus e a todas as coisas.
Tal homem largou tudo para morar em um igreja em ruínas e reconstruir, não somente essa capela, mas toda a Igreja de Cristo. Ele amava de forma muito especial a Igreja, reconhecendo nela o poder divino e não temeu provações e dificuldades para ser fiel a ela, em qualquer uma de suas circunstâncias.
Se tudo em que fazia via Deus, nele todas as coisas e pessoas viam Deus. Inclusive recebeu as chagas de Cristo, marcando em sua carne a sua configuração com Cristo, com o Cristo sofredor.
Esse homem é Francisco, homem pobre, mas o homem mais rico do mundo. Que passava necessidades, mas era o homem mais feliz do mundo. Ele era o homem mais feliz do mundo por que era o mais livre, e vivia somente para Deus e o encontrava em qualquer lugar que olhasse.
Por isso, Francisco soube partir das coisas visíveis e chegar a Deus como ninguém em toda a humanidade. Seu amor por Deus era de tamanha extensão que é chamado Pai Seráfico, pois ama a Deus como um serafim e no lugar daquele que não quis reconhecer nas imagens das criaturas à semelhança de Deus.
Nós, que não podemos imita-lo nesse amor e nem nessa liberdade, que o imitemos no cuidado das coisas e ainda mais das pessoas. Escutemos ainda a voz de Francisco que continua ressonando das antigas terras de Assis, e clama Laudato si!
[1] GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. São Paulo: Discurso Editorial; Paulus, 2006.
Wilgner Batista Picolo, 3º do discipulado.