Já parou para pensar que cada momento ao qual você não dá seu devido valor é um momento desperdiçado? E que cada momento desperdiçado é uma oportunidade a menos que você tem para fazer coisas importantes e com pessoas importantes? Pois é, que tal parar alguns minutos para pensar um pouco sobre isso?
Um dos instintos mais fortes nos animais e, por conseguinte, no homem – animal racional – é o de conservação da vida tanto individual quanto coletiva, ou seja, pela conservação da espécie. Se não todas, a maioria das ações humanas tendem naturalmente para isso. Um exemplo claro de tal afirmação é o medo, que visa impedir a morte, independentemente de seu objeto e de sua forma de manifestação: enfrentamento, fuga ou estaticidade.
Por causa desse instinto nenhuma pessoa quer, verdadeiramente, morrer. As pessoas com ideações suicidas, por exemplo: não querem de fato morrer, querem apenas cessar com a dor que sentem. O problema é que por não conseguirem enxergar bem a realidade, infelizmente, muitas vezes acabam escolhendo a pior forma possível de fazê-lo.
Entretanto tenho observado um fenômeno curioso em muitas pessoas perto de mim e também em mim mesmo: indiretamente ansiamos pelo fim da nossa vida. Explico-me: durante uma aula, que ironicamente era sobre o tempo e sua irreversibilidade, flagrei-me desejando que ela acabasse logo. Você pode pensar: “mas isso é normal. Quem nunca desejou que uma aula terminasse logo?”, mas o problema mora justamente aí: o tempo que gastamos naquela aula não voltará nunca mais.
Ou seja, cada vez que eu desejo que uma aula, uma conversa, um dia, um semestre, enfim, que qualquer coisa acabe logo eu estou desejando, por consequência, que aquele precioso tempo na minha vida passe para não mais voltar e, assim, mesmo que inconscientemente, que o momento da morte chegue logo. Parece um pouco radical? Sim, pode até parecer, mas não é. Ou pelo menos não deveria ser.
Mas qual o motivo disso? Claro, além do desejo natural de fugir da dor (afinal, convenhamos, uma aula tediosa da qual você não entende praticamente nada é um tipo de dor), seria impensável que uma sociedade ansiosa na qual também estou incluso, acostumada a stories de 15 segundos, reels, memes e trends com 30 e vídeos no YouTube na velocidade 2.0 suportaria uma aula com tema denso e complicado, junto com o cansaço e desinteresse e, pior ainda, sem a opção de aumentar a velocidade.
Minha intenção não é fazer com que você pare de consumir tais conteúdos afinal, a bem da verdade, não creio que eu também venha a fazê-lo. O que desejo realmente é que todos nós saiamos de uma espécie de “piloto automático” que nos faz apenas passar pelas coisas sem estar de fato presentes; que aproveitemos cada momento, mesmo os mais pesarosos já que, por mais que não sejam “apetitosos”, fazem parte da nossa vida e, ainda mais, por serem episódios de crise são importantíssimos para nosso crescimento humano e espiritual.
A vida já passa rápido demais, meu caro, não queira apressá-la mais ainda pulando partes dela como se pula os stories que não lhe interessam. Não “exista” apenas. Viva! E viva com qualidade! Aproveite aquela aula chata, aproveite aquela conversa tediosa, aproveite aquele dia arrastado em que você está “morto de cansaço” e só quer que chegue à noite para você dormir, do mesmo jeito que você aproveita a sua série favorita, a conversa agradabilíssima com seu melhor amigo, aquela adoração ao Santíssimo em que seu coração se deixa ser abraçado por Deus.
Não deseje que sua vida acabe mais rápido do que já vai. Viva o hoje, viva o agora, aproveite a graça do momento presente que não volta mais e pare de pular os stories da sua existência. Memento mori[1]!
Davi da Silva Xavier, 1º ano do Discipulado.
[1] Memento mori é uma expressão latina que significa algo como “lembre-se de que você é mortal”, “lembre-se de que você vai morrer” ou traduzido literalmente como “lembre-se da morte”.