Subo ao Altar de Deus – A jornada da formação inicial

O despertar da vocação sacerdotal

Toda vocação se constitui em um grande mistério. Na carta aos Efésios, tal mistério é designado como manifestações das incomensuráveis riquezas de Cristo (Ef 3,8). E entre o povo de Deus, há aqueles que são convidados ao sacerdócio ministerial, unindo-se a Jesus no pastoreio do rebanho com a palavra e a graça de Deus.

A partir de nosso Batismo, no qual somos incorporados à filiação Divina, é dada a missão da Igreja, que, acolhendo a voz de Cristo, é convidada a rezar ao Senhor da messe para que lhe mande operários (Mt 9,38; Lc 10,2). E cabe a esses candidatos em quem Deus suscita Seu chamado, responder com generosidade e entrega ao pedido que lhe é feito, participando do sacerdócio hierárquico de Cristo.

E para que esse chamado seja amadurecido e correspondido, a atual Ratio Fundamentalis (2016), documento que orienta a formação sacerdotal, recomenda o trabalho conjunto entre bispos, sacerdotes, consagrados e leigos num plano de “pastoral de conjunto”, sintetizadas pelas ações da pastoral vocacional, que atuarão na promoção e estímulo do discernimento das vocações.

Para colaborar com esse processo, o Sumo Pontífice, já a algum tempo, estabeleceu a celebração anual de uma Jornada Mundial de Oração pelas Vocações no IV Domingo da Páscoa, conhecido como Domingo do Bom Pastor.

E nesse ano, nossa Diocese de Anápolis celebra o Ano Vocacional, dedicando atenção especial ao cultivo e discernimento das vocações.

À você, que sente essa voz arder em seu coração, seja corajoso para avançar para águas mais profundas: Duc in Altum (Lc 5,4). Não temas em lançar as redes no oceano da Misericórdia. Ele te espera!

A etapa propedêutica

Dado o primeiro discernimento vocacional e tomado o caminho de preparação por meio dos encontros vocacionais, o candidato ao nobre dom do sacerdócio começa sua formação inicial a partir da etapa a qual se chama “propedêutico”, palavra que vem do Francês propédeutique, que significa “conjunto de conhecimentos prévios e regras necessário para estudar uma ciência”. Assim sendo, esse período, que em geral dura 1 ano, é o momento propício para se introduzir na dinâmica de formação.

É uma etapa indispensável com particularidades próprias. O objetivo principal consiste em garantir bases sólidas para a vida espiritual e favorecer um maior conhecimento de si para o crescimento pessoal. Todo ambiente favorece a abertura para um estado constante de oração por meio da vida sacramental, da Liturgia das Horas, da familiaridade com a Palavra de Deus, do silêncio, da meditação, da leitura espiritual, entre outros. Esse é também um tempo favorável para um conhecimento inicial e sumário da doutrina cristã e para a experiência dinâmica do dom de si, bem como um complemento da formação cultural.

A fase propedêutica é tomada como um verdadeiro tempo de discernimento da voz de Deus, levado acerca de uma vida comunitária e no âmbito de preparação para as sucessivas etapas de formação inicial. Por falar em vida comunitária, a fraternidade sacerdotal é exercida desde já, a partir dos aspectos de respeito que se estabelece na própria comunidade e através do espírito de comunhão com o Bispo Diocesano, o presbitério e toda a Igreja particular.

Segundo as diretrizes postuladas pela Congregação para o Clero, é conveniente que a comunidade propedêutica seja distinta daquela do Seminário Maior, com formadores próprios, visando, deste modo, uma boa formação humana e cristã. E assim se faz na Diocese de Anápolis. Atualmente a casa de estudos propedêuticos é acompanhado por dois sacerdotes formadores e se localiza na Rua 11 nº 380 Bairro Vila Góis em Anápolis-GO.

“Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha” (Mt 7, 24). E nessas palavras do Evangelho se define a grandiosidade da etapa propedêutica, na qual é necessário alicerçar bem essa casa que começa a ser construída. Portanto, viver com dedicação esse período é penhor de uma boa estruturação na vida seminarística e futuramente sacerdotal!

A etapa do discipulado

Após o propedêutico essa é a etapa que compreende na dimensão acadêmica, o período de estudos do curso de Filosofia. Contudo, pode ir além desse período se isso for requerido noutras dimensões (humana, espiritual e pastoral). Como o próprio nome diz, é tornar-se discípulo. Mas, o que é ser discípulo? Segundo o evangelista Marcos (3,14), é aquele chamado a ficar com o Senhor. E esse convite implica segui-Lo e tornar-se missionário do Evangelho. Isso revela que se deve viver uma profunda relação com Jesus, abrindo-se quotidianamente aos mistérios do Reino de Deus e tornando-se uma testemunha do amor de Cristo no mundo.

Na dinâmica do discipulado são enraizadas no seminarista a escuta, a guarda e a prática da Palavra, ou seja, o seminarista deve aplicar todas as energias possíveis para se enraizar na sequela Christi (seguimento de Cristo). É um tempo específico é caracterizado pela formação do discípulo de Jesus destinado a ser pastor, com uma especial atenção para com a dimensão humana em harmonia com o crescimento espiritual, a fim de ajudar a amadurecer a decisão definitiva de seguir o Senhor no sacerdócio ministerial e no acolhimento dos conselhos evangélicos, de acordo com as modalidades próprias desta etapa.

Por ser um período que prepara para a configuração, o discipulado traz como missão em si, a realização de um trabalho sistemático sobre a personalidade do seminarista, mediante abertura ao Espírito Santo. Por isso, se habituam a disciplinar seu caráter, crescer na fortaleza de ânimo, aprender as virtudes humanas, superar individualismos no intuito de fazer dele, reflexo vivo da humanidade de Jesus numa generosa dedicação aos outros.

É um tempo de transformação e crescimento que educa a pessoa à verdade do próprio ser, à liberdade e ao domínio de si, além de permitir a construção de um estilo de vida equilibrado e integrado através da contribuição dos formadores e, em especial, do Diretor Espiritual, que colabora na tomada de consciência dos próprios limites, da necessidade da graça de Deus e da correção fraterna.

A duração dessa etapa na Diocese de Anápolis é de 3 anos, podendo ser ampliada, se necessário. Nos dois primeiros, dedicam-se aos estudos filosóficos realizados no Institutum Sapientiae e formações específicas sobre a personalidade, discipulado e vida comunitária. No terceiro ano, o reconhecimento do curso de Filosofia é promovido pela Faculdade Católica de Anápolis. Além disso, realiza-se estágios curriculares em uma instituição de ensino e presta-se assistência hospitalar na Santa Casa de Misericórdia. Ao final dessa etapa, o seminarista, alcançando liberdade e maturidade interiores adequadas, pode iniciar, com serenidade e alegria, o caminho que o conduz a uma maior configuração a Cristo.

A etapa da configuração

Tendo o seminarista incorporado o espírito de discípulo de Cristo, agora é o momento de se configurar a Ele, fazendo um profundo mergulho e criando uma íntima e pessoal relação com Jesus. Essa etapa se concentra em configurar o seminarista a Cristo, Pastor e Servo, para que, unido a Ele, possa fazer da própria vida um dom de si aos outros.

A etapa configurativa, que regularmente corresponde ao tempo dos estudos teológicos, se distingue por ser o percurso formativo onde mais se intensifica a exigência e a necessidade de iniciativas claras por parte do seminarista que revelem o seu desejo e compromisso de deixar-se configurar a Cristo. É orientada, de modo particular, para a formação espiritual própria do presbítero, em que a configuração progressiva a Cristo torna-se uma experiência que suscita na vida do discípulo os próprios sentimentos e comportamentos do Filho de Deus. Ao mesmo tempo, é um período que introduz na aprendizagem presbiteral, motivada pelo desejo e amparada pela capacidade de oferecer-se a si mesmo no cuidado pastoral do povo de Deus, assim como o Bom Pastor, que conhece e dá a vida por suas ovelhas (Jo 10, 14-17).

Essa fase requer do candidato empenho e responsabilidade em viver as virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança), teologais (fé, esperança e caridade) e os conselhos evangélicos (pobreza, castidade e obediência). É o tempo de trabalhar sua docilidade à ação de Deus através dos dons do Espírito Santo, de fazer uma gradual releitura de sua história pessoal à luz da caridade pastoral, de assegurar uma fecunda e harmônica interação entre maturidade humana e espiritual, entre vida de oração e aprendizagem teológica. Dessa forma, os seminaristas são chamados a adquirir a espiritualidade do padre diocesano, caracterizada pelo amor e dedicação desinteressada à Diocese, sendo ele pastor e servo para todos num contexto específico (1Cor 9,19), sempre respeitando todos os carismas e em comunhão com o Bispo e os irmãos sacerdotes.

No início dessa etapa, o seminarista, tendo a maturidade suficiente, poderá ser contado entre os candidatos às ordens sacras mediante o rito da Admissão. A partir de então, o candidato assume o compromisso público de preparar-se para o sacerdócio e que, portanto, renuncia à vida privada. Durante essa etapa serão conferidos aos seminaristas os ministérios de leitor e acólito para disporem melhor aos futuros serviços da Palavra e do Altar. O ministério de leitor desafia o seminarista a deixar-se transformar pela Palavra de Deus. O ministério de acólito implica uma participação mais profunda no mistério de Cristo que se doa e está presente Eucaristia, na assembleia e no irmão. Estes ministérios devem ser exercidos na liturgia, na catequese, na evangelização e no serviço ao próximo.

Na configuração se requer que o seminarista dê uma resposta convicta para o chamado ao ministério sacerdotal ou, com a ajuda dos formadores, discernir que não é essa sua vocação. Assim, concluído esse tempo, e mediante o juízo do Bispo juntamente com a voz dos formadores, o seminarista poderá ser encaminhado para a última etapa da formação inicial, o período de síntese vocacional, também conhecida como ano pastoral, geralmente realizada em uma paróquia. Por fim, no seu termo, caso seja reconhecido idôneo à juízo do bispo, ouvidos os formadores, o seminarista pedirá e receberá a ordenação diaconal. Com a ordenação diaconal o seminarista se torna clérigo e começa o maior período formativo: a formação permanente.

A Síntese vocacional ou Etapa Pastoral

Essa etapa corresponde ao período intermediário entre a estadia no Seminário, após a conclusão da etapa configurativa e as sucessivas ordenações (diaconal e presbiteral). A Síntese Vocacional tem as seguintes finalidades: primeiro, trata-se da inserção na vida pastoral, com uma gradativa designação de responsabilidades, sempre em espírito de serviço e autêntica caridade pastoral. Em segundo lugar, é visto como uma adequada preparação ao presbiterado, sendo uma oportunidade de conhecimento de si mesmo no ser e viver de pastor, ou seja, uma síntese vocacional-pessoal, por meio de um acompanhamento específico.

Nesta etapa, o candidato é convidado a declarar de modo livre, consciente e definitivo a própria vontade de ser presbítero. Assim, essa formação é geralmente realizada fora das instalações do Seminário, vivendo esse momento num contexto paroquial ou outra forma de comunidade eclesial, uma vez que os documentos da Igreja pedem que seja pautado no serviço a uma comunidade, ao lado de um pároco ou responsável pela realidade pastoral que acolhe o seminarista constituído de plena consciência da tarefa formativa.

A Etapa Pastoral está orientada para a inserção na vida pastoral e a preparação mais intensa às ordens sacras. A duração é variável e depende da efetiva maturidade e idoneidade do candidato. Para o pedido às ordens sacras é preciso respeitar os tempos estabelecidos pela Igreja, como a idade mínima de 25 anos para o presbiterado e 23 anos para o diaconato, além de ao menos seis meses entre a recepção do diaconato e a presbiterado, conforme prescreve o Código de Direito Canônico. (C.I.C., cân. 1031, § 1).

Para receber a Sagrada Ordenação, é necessário que o candidato tenha docilidade em aceitar as decisões que o Bispo, apoiado pela equipe formadora, pronunciar a seu respeito. Além disso, é necessária uma conveniente preparação do candidato, principalmente de caráter espiritual, que se estende para a família do ordenando e por toda a comunidade paroquial, distinguindo bem cada percurso específico, tanto para o diaconato como para o presbiterado.

Em seguida, o ministro ordenado ingressa na última etapa formativa: a formação permanente. O processo de formação não se encerra quando inserido no seio da família do presbitério. Assim, de acordo com o Bispo, junto com o auxílio de seus colaboradores, os novos presbíteros são introduzidos nas dinâmicas próprias da formação do clero de sua Diocese, dando condições para garantir o bom desenvolvimento da evangelização e missão de um padre, que se encontra na formação permanente.

Alisson Sales Prates, 3º ano do discipulado.

compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram

deixe um comentário

%d blogueiros gostam disto: