Voltando para casa após um belo jantar na casa da Bisavó, sai caminhando, empurrando minha linda Ferrari, rsrsrs – bicicleta vermelha, – pensando no meu futuro, na próxima etapa a seguir, quando escuto um grito:
– Eiii, me espere! Calma ai!
Aquele que gritava, estava no escuro correndo em minha direção, pensei em montar na bicicleta e sair correndo – fiquei muito assustado. Quem era aquele rapaz? Quando de repente ele me chama pelo meu nome:
– Emanuel, sou eu o Otávio.
Parei logo, pois era um amigo de infância, e havia um ano que não nos víamos. Ele estava de barba, magro e eu pelo contrário mais forte – rsrsrs – na verdade gordinho. Quando ele chegou logo perguntei:
– O que você está fazendo por aqui meu amigo?
Ele me falou que tinha mudado para aquele bairro. E logo, Otávio me convidou para conhecer a nova casa dele, voltei entramos e conversamos por algum tempo, matamos a saudade, falamos do tempo de escola e o que nossos colegas estavam fazendo da vida, rimos bastante. Falávamos de Pedrinho, ele era muito engraçado, lembrávamos o quanto ele nos fazia rir.
Já era por volta das 20h30, quando ele me disse que estava saindo para ir na casa do Pedrinho, tomar sauna e banhar na piscina, e, também reunir alguns poucos amigos do tempo da escola e me convidou para ir com ele, ainda mais por causa da coincidência. Questionei:
– Sauna a essa hora?
Otávio insistiu e explicou, que era só uma reunião com alguns amigos e que ele também não sabia muito sobre quem estaria lá. Questionei-me um pouco, pensei e, porém, decidi, vou reencontrar alguns velhos amigos, seguimos em direção de minha casa para pegar uma roupa de banho.
Fiquei pensativo no caminho sobre a minha decisão, e falei para ele que não poderia chegar muito tarde em casa. Algo dentro de mim dizia que não era pra ir. Conhecia muito bem aqueles meninos, quantas bagunças fizemos na rua quando éramos crianças, agora todos jovens, pensamentos mudam e as brincadeiras quando criança, toma rumos diferentes. Nem eu era o mesmo!
Insistia com Otávio em ficar em casa, pois, não estava gostando muito da forma que ele conversava com Pedrinho no telefone, as conversas eram outras – eles estavam muito diferentes -, porém, ele insistiu muito para que eu fosse, aceitei, reforcei que não poderia demorar muito tempo.
Quem sou?
Desde minha infância fui um menino muito custoso, meus pais faziam de tudo pela minha educação e para me mostrar o caminho certo a seguir. A nossa turma era ótima, jogávamos bola em golzinhos feitos com as chinelas ou tijolos, soltávamos pipa, brincávamos de polícia e ladrão, pique-esconde, mas também éramos o terror da rua em que morávamos, brigávamos muito, subíamos nos muros das casas e pegávamos manga escondido.
Com as correções de papai, aprendi a não pegar nada dos outros sem a devida permissão, que aquilo era roubo, grande ensinamento que trago até hoje comigo. O pai dos outros meninos, quando ficavam sabendo, colocava-os de castigo, menos Pedrinho. O pai de Pedrinho disse, que aquilo era coisa de criança e que não tinha que dar tanta atenção.
Quando completei meus 12 anos, meus pais resolveram mudar de bairro e foram morar no outro lado da cidade, fiquei muito chateado com aquilo, meus amigos ficaram todos ali longe, com a mudança não perdemos o contato, continuávamos na mesma escola.
No ensino médio, somente eu e Otávio continuamos a estudar juntos. Otávio sempre me contava das histórias das farras deles lá na rua, as brigas ficaram mais feias e as brincadeiras se tornaram atitudes violentas; invadiram a casa de uma senhora chata e rouparam um dinheiro dela. Bebiam muito, fumavam escondido e eu longe, revoltava-me com meus pais, por ver meus amigos curtindo, e eu ali, longe deles por obediência.
Comecei a sair escondido de casa para encontrar com eles e também bebia, estava ali pela farra. Começaram a convidar garotas para nossas festinhas. Eu mentia muito para os meus pais, por causa daquela turma. Conheci Sandra, ela era linda, queria muito namorar com ela, mas, ela nunca quis, ela foi meu primeiro amor, acho que faria qualquer coisa para namorar com ela, mas, como ela não dava bola para mim, eu ficava com qualquer outra.
Meus pais acharam muito estranho minha mudança de comportamento, e começaram a desconfiar de mim, começaram a questionar sobre onde e com quem estava saindo, discuti com eles e sai. Aquele dia foi a minha última festa com os meninos.
Pedrinho surge com uma coisa diferente, era droga, e por estar revoltado com meus pais fumei aquela droga pela primeira e única vez. Quando voltava para casa daquela festa existia em mim uma tristeza enorme, na festa estava rindo, e mesmo rindo, me questionava muito de como estava minha vida.
Uma vida de mentiras, por isso havia tantas brigas em casa, bebedeiras e festas, ficava com várias meninas diferentes, era muito bom na hora, mas depois era horrível, sentia um vazio enorme, e o pior era a ressaca moral. E eu que nem bebia, por influência de amigos, e para ser bem aceito meio da turma, cheguei até ao ponto de drogar-me. Precisava mudar, aquilo não estava certo, algo dentro de mim me dizia: Isto não está certo! Você não é assim!
Eu me sentia mal com aquela realidade, e diante de toda educação que meus pais tinham me dado, e tudo que eles tinham me ensinado. Lembro-me que era domingo, e lembrei da minha primeira comunhão, onde aprendi que Cristo é o alimento da alma, ele traz a plena alegria para nosso interior quando o recebemos, por isso, precisamos estar em comunhão com Ele.
Será que estou assim triste, porque é falta de Deus? Reconheço estou distante d’Ele! Nada de oração em meu dia. Será que vivo uma ilusão de felicidade? Sou livre ou estou me escravizando com vícios, que me alegram só um momento? Já sei, vou procurar um padre para me aconselhar.
Chegando na igreja encontrei Pe. Felipe, não sabia quem era ele, pois, fazia cinco anos que não estava indo as missas – nem na páscoa – ele era o novo pároco. Providencialmente, naquele domingo era domingo da misericórdia e ele, após a santa missa, estava em atendimento de confissão. Confissão! Realizei uma quando fui receber o sacramento e já faz tanto tempo.
Logo pensei, preciso preparar alguma coisa aqui antes de falar com o padre, mesmo que essa não seja minha intenção, quero só um conselho, reforcei interiormente, mas questionei-me: confissão? Não! Confessar é contar todos os meus erros e faltas cometidas contra Deus, contra o próximo, e falar isso tudo, para alguém que nem conheço é muito difícil. Porém, lembrei que para obter a graça do perdão de Deus, preciso faze-lo com fé, crendo que o sacerdote age na pessoa do próprio Cristo, pela ação do Espírito Santo.
A confissão devolve a comunhão com Deus, é a volta do filho pródigo para o abraço amoroso do Pai, que nunca se cansa de esperar seu filho para amar e perdoar. Depois de vários questionamentos internos, chega minha vez e vou falar com o padre.
Sentei-me ao lado dele e começamos a conversar, ele era muito acolhedor, agradável, e fui me deixando ser cuidado por aquelas palavras que ele me dizia. Abri meu coração para ele, contei tudo, desabafei, – ufa – sai daquela conversa aliviado e decidido a mudar a minha história.
Estando aos pés de uma cruz para meditar mais um pouco sobre minha vida, fiz escolhas que mudariam meu viver, escolhi ser um jovem melhor. Fiquei ali na igreja por volta de duas horas, perdi a noção do tempo.
Fui para casa e ao chegar meus pais estavam desesperados, pois ligavam no meu telefone e só dava fora de área, quando o retirei do bolso percebi que estava sem bateria, meus pais começaram a falar muitas coisas para mim, pagando sapo, mas eu estava tão bem comigo, com o momento que vivi naquela manhã, que deixei que eles falassem, pois eles estavam certos por sinal, preocupados, sem informações.
Quando eles terminaram de falar olharam pra mim e perceberam algo diferente, então me perguntaram, o que tinha acontecido comigo. Comecei a falar com eles sobre tudo o que eu tinha feito de errado, falei sobre minhas mentiras, bebedeiras e também sobre ter me drogado. Minha mãe começou a chorar, a reclamar e falar, então, pedi a eles que me deixassem terminar de falar.
Contei para eles o motivo do meu sumiço, disse que tinha ido à igreja e conheci o Pe. Felipe, falei que conversamos, e que eu fiz uma escolha de mudar meu jeito de viver, e que precisava muito da ajuda deles, para esta mudança. Meus pais que rezavam muito, me abraçaram e me deram uma grande força para esta nova etapa.
Procurei os meninos da turma para irmos a missa, contei que o padre era muito gente boa, animado e que eles iriam gostar. Os meninos ficaram rindo de mim e disseram que eu estava era louco, e disseram que não fazíamos nada de errado, e sim estávamos curtindo a vida. As nossas escolhas devem ser decisivas, firmes, autênticas, por que sem isso não geram mudança em nós e nem nos outros, lembrei do que Pe. Felipe me disse.
Estava saindo e Otávio veio ao meu encontro e foi comigo para a igreja, participamos da missa e conversamos um pouco. Sempre íamos juntos para os eventos da igreja, começamos a participar do grupo de jovens da paróquia, pegamos aulas de crisma, estávamos indo bem.
No dia de nossa crisma, notei fatos, que só fizeram sentido aquele dia para minha fé. Lembrei-me que o meu batismo se consolida hoje na crisma, pois fui batizado quando criança na fé de meus pais e padrinhos, em que eles assumiram a responsabilidade de me educarem na fé católica. Agora na crisma, o Espírito Santo será derramado sobre mim e Otávio, assim nos tornaremos testemunhas e anunciadores da fé cristã, agora pela nossa capacidade de escolha.
Algo me preocupava, Otávio nunca me deixou sozinho, éramos muito amigos, mas também não deixava a nossa turma. No meu caso, afastei bastante deles, pois percebia as coisas erradas, mas Otávio não.
Fui sentindo motivado a estar com Deus sempre mais, e continuava sempre a me aconselhar com o Pe. Felipe, e mesmo quando queria desistir, ele me incentivava a continuar. Falei para ele deste desejo que crescia em meu coração, de estar com Deus cada vez mais, então ele me fala sobre vocação. Me perguntou:
– Já pensou em ser padre?
Nunca tinha parado para pensar nesta possibilidade, mas aquela pergunta me inquietou, e assim comecei a me questionar. Padre Felipe me contou como se deu seu chamado vocacional e isso me inquietou. Explicou que existe vários ramos de uma vocação, como a vida sacerdotal, a matrimonial e a vida consagrada religiosa, como freira e irmão, ou até a vida consagrada como leigo em alguma comunidade. Sai dali pensativo. Será? Será que isso é pra mim? Ser Padre, eu? Por que o chamado de ser padre me chamou atenção?
O matrimônio é dar-se por inteiro, a vida toda e por toda vida, um ao outro. Quando um homem e uma mulher se unem em matrimônio esperam ser felizes, esta felicidade é quando um faz o outro feliz, e assim se felicita igualmente. Posso escolher o que sempre desejei: estudar, ter um bom emprego, casar, ter muitos filhos e viver perto de meus pais e amigos. Mas algo me inquietou: ser um padre?
Voltei na minha paróquia para falar com o padre, e assim começamos um acompanhamento vocacional. Que tempo de crescimento, fui ingressando nesta realidade e me apaixonando sempre mais. E me perguntava: Será que vale a pena ser padre? Me entregar inteiramente por este amor a Deus? Renunciar todos meus sonhos?
Me encantava sempre mais, pela vida de oração, felicidade em que percebia nos seminaristas e tomei uma grande decisão. Quero sim entrar no seminário, conclui o processo de um ano, participando dos encontros vocacionais. Fui aceito pela equipe de formação e hoje já estou no seminário a três anos. Muito feliz, pelo meu desenvolvimento humano, meu crescimento espiritual, meu acréscimo intelectual. Me questionando, se vale a pena continuar esta entrega à vida sacerdotal, minha resposta é que não vale a pena, e sim vale a vida. A minha vida eterna.
Estando agora com meus amigos, nesta oportunidade na casa de Pedrinho, tentei ser humano com eles, rimos muito, contei para eles de como era a vida no seminário. Fui sobrecarregado de perguntas, e vi nos olhos deles, pela minha capacidade de estar com eles bem tranquilo, sem julga-los, o quanto foi bom para eles. Fiquei sabendo de Otávio, que depois que eu saí, os meninos conversando sobre mim, disseram que sentiram o desejo de ir participar da missa novamente. Fui normal, fiz minha vocação valer a vida, não impus minha fé, mas cresceu o desejo, por eles perceberem que estou em um bom caminho. Faça você também a diferença sendo normal, e não careta. Seja santo!
Lucas Barbosa Silva, 3° do discipulado.