A disputa entre a razão e a vontade

Diz-se que, segundo uma lenda muito antiga, desde que o mundo é mundo, que a razão cansada de vagar pela terra a procura de conhecimento, resolveu se sentar à beira de um penhasco.

Sentada ali, resolveu contemplar a beleza daquele lugar, porém lhe faltava algo; quando de repente, olhando ao lado não se viu sozinha, tinha mais alguém, e ao fixar o seu olhar, viu a vontade, como assim se chamava, brincando de salto sobre uma enorme fenda que se perdia de vista sua profundidade.

A razão então começou a observa-la e tirar as suas conclusões. Chegou à conclusão que a vontade era imprudente, pois as chances de errar o salto eram grandes e a queda maior ainda.

Então foi se aproximando e perguntou:

– Por que fazes isto? não percebes que é perigoso e podes vir a cair?

Ao que a vontade respondeu:

– Eu gosto de saltar, e desde de sempre, sinto dentro de mim esse desejo.

Na verdade, a vontade não sabia se expressar, pois não era dada aos pensamentos; pensar era uma coisa difícil, impossível para ela, por isso, era tão corajosa.

A razão então, entrou em um profundo paradigma. Não conseguia ter aquele desejo, e àquela coragem. Como eram bem diferentes, a razão continuou a refletir, porque aquilo lhe era próprio, e a vontade a se arriscar naquela brincadeira perigosa.

O tempo foi se passando e a razão percebeu que a vontade quase não falava, mas concluiu que devia ser a sua natureza, estava acostumada a correr riscos e nunca estava satisfeita.

A vontade por sua vez, sem compreender o porquê, sentiu um grande afeto pela razão, estava vislumbrada, porque nunca tinha visto alguém tão quieta e equilibrada. No fundo desejava tal qualidade para si.

O tempo foi se passando e se tornaram grandes amigas, porém, existia uma grande disputa entre as duas.  A razão notou, que a vontade desejava coisas demais, e, percebia também, que ao contrário dela, a vontade não sabia fazer planos.  A razão disse então:

– Percebi que há uma disputa entre mim e ti. Eu me inclino para um bem conhecido, já você, o deseja por si mesmo, antes mesmo de o conhecer, pois lhe parece agradável. Sendo assim, conclui: nem sempre o que pensamos, desejamos, mas desejamos muitas vezes o que pensamos.

A vontade continuou saltando, mais dessa vez de alegria, de alguma forma, aquela fala da razão mexeu com ela. 

A partir daquele dia decidiram andar juntas, pois via, que a razão a guiava para lugares mais desafiadores do que aqueles saltos no penhasco, e a razão sabia, que somente com aquela coragem poderia continuar e completar aquilo que lhe faltava.

Diego Pereira da Silva, 2º ano da configuração.

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