O INCENSO DA MATURIDADE

Certa vez em uma conversa com um sacerdote com mais de 20 anos de ministério, ouvi dele, a seguinte frase: “Depois de 20 anos de padre fui entender que quanto menos incenso se coloca no turíbulo, mais fumaça sai dele”. O que a princípio poderia ser apenas uma partilha litúrgica, virou fonte de meditação e reflexão para mim.

“Carvão bem vermelhinho, dizia ele, pouca quantia de incenso no meio e pronto, muita fumaça branca. ” Quando somos jovens, temos a mania de adicionar muito incenso a nosso carvão. Com isso o incenso que queima, acaba por abafar a brasa e apaga sua chama, fazendo com que o carvão interior, outrora com intenso calor, mude-se em frio e desolação.

A verdade e a paz interior não estão no muito incenso colocado no carvão, não estão nas muitas coisas que se faz ao mesmo tempo, nas muitas palavras de um eloquente discurso, nas muitas linhas de uma egrégia dissertação, tampouco em uma rotina tomada de muitos e complexos afazeres, que não deixam se quer tempo para oração, meditação e reflexão. Mas, a verdade e paz interior estão em Deus. E Ele, por sua vez, não está na agitação, no furacão, no terremoto, nem no fogo, mas na brisa leve! (I Reis, 19, 11-12)

A falta de maturidade nos leva a lotar nossas agendas com muitas atividades, na consciência de que o homem vale por aquilo que faz e morre para fazer bem, mas, com o tempo vamos entendendo que não adianta violentar a carne para atender as expectativas dos outros, consumir a saúde para realizar muitas atividades em vista de uma colocação social, trabalhista, eclesial, mas, que uma só coisa é necessária: fazer bem o pouco que se faz! E pela motivação correta: em vista da maior glória de Deus e da salvação das almas.

Voltemos mais uma vez a figura do turíbulo que com seus carvões acesos, bem vermelhinhos, como dizia o sacerdote, emite calor latente e ainda que não se perceba a olho nu ou que toda a assembleia sinta, ele está lá, lenta e constantemente aquecendo o ar ao seu redor.

Vejamos, aí está um ensinamento deveras precioso: as verdadeiras boas obras são, em muitas vezes, pouco percebidas de maneira imediata, silenciosas até, mas deixam marcas latentes de sua passagem. O ar ao redor do turíbulo ainda que seja mínimo, é mais aquecido do que o restante da igreja.

Imagina se todos nós fôssemos turíbulos bem acesos e mantivéssemos assim, nossos carvões sempre vermelhos, ardendo de amor por Jesus?

Aqueceremos não só uma porção mínima de ar, mas, cada um fazendo bem a sua parte, aqueceremos o mundo e faremos a diferença na multidão.

“No multa, sed multum, ” vai ensinar-nos o doutor Angélico, São Tomás de Aquilo, não muitas coisas, mas, o essencial em profundidade! Dedicar a vida em ir ao mais profundo de cada atividade realizada, será a verdadeira diferença que faremos nesse mundo tão superficial e frio. E assim, como o resultado da combustão do incenso no turíbulo é um doce perfume que inebria a alma, conseguiremos perfumar o mundo, com a verdadeira essência do cristão: Jesus Cristo que habita em nós.

Que Deus nos ajude a manter sempre a nossa busca pelo essencial em nossas relações com Ele, conosco e com o próximo, para que a brasa da vida em nosso coração, se dilate sempre e aqueça o mundo. Que nunca nos permita consumir nossos dias em agitação e frenesie, mas que estejamos sempre voltados para a contemplação e a meditação das coisas, que nos circundam e que nos preenchem.

Se buscarmos sempre e em tudo cumprir bem nossos deveres diários de estado, apenas o essencial, faremos muito mais pelo mundo ao nosso redor! Doravante, estaremos com as chamas acesas e com o coração emitindo radiante, o doce odor de Cristo em meio aos homens.

Marcos Vinícius Santana, 1° ano do discipulado.

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